sábado, 5 de março de 2011

O túmulo dos vagalumes



Até entendo as pessoas que dizem não ter afinidade com animações, talvez porque a maioria do que se vê tem estórias piegas, rasas como um píres, com bonequinhos ultra coloridos... Melhor parar por aqui. Se este é o seu caso, o filme "o túmulo dos vagalumes" (1988), tem grandes capacidades de quebrar essa péssima impressão. Oferecendo o que de melhor a animação pode oferecer, essa pérola do Estúdio japonês Ghibli, internacionalmente famoso pelo "A Viagem de Chiriro", é ainda um grande drama e uma interpretação metafórica sobre o próprio Japão em plena Segunda Guerra mundial.

Baseado no livro de Akiyuki Nosaka, o filme narra a trajetória do adolescente Seita e sua irmãzinha Satsuko, mostrando a transformação radical de suas vidas devido à chegada da guerra ao Japão. Quando pedaços de madeira em chamas caem do céu incendiando sua cidade natal, as duas personagens perdem a mãe para o fogo e passam a viver com a Tia num lugarejo em tensão constante causada pela expectativa de um ataque semelhante. Lá, convivendo com cobranças da Tia, a escassez de comida e a humilhação, os dois fogem e se abrigam numa pequena caverna, onde as carências materiais só são diminuídas pelo amor que nutrem um pelo outro.

O roteiro da obra é extremamente competente por fazer o espectador comprender a importância do orgulho, um valor muito caro aos ocidentais, tornando a necessidade da fuga um ato de coragem e libertação ao que poderia parecer a uma cabeça quadrada uma demonstração de estupidez. Mas essa é apenas uma façanha. Algumas cenas simples, mas poderosas, como a dos vagalumes, que dão título ao filme, entraram para a História do cinema por seu lirismo e, a condução de uma história cujo final trágico desde o começo já nos é apresentado nos faz assistir a cada cena ávidos por compreender o que ocorreu com os irmãos. O nível das animações é acima da média, ou seja, é um prazer ver o esmero para tornar a imagem fluida como num filme live action.


Para mim, o melhor fica mesmo por conta da analogia dos jovens com o Japão em guerra, percebendo em seu sofrimento e humilhação a imagem de um país que vê de um momento para o outro valores milenares reduzidos à nada. Cujo maior peso para continuar caminhando é carregar na mente a imagem dos corpos dos entes queridos, e repensa tudo isso enquanto, na modernidade, os descendentes dormem livres do trauma dessas experiências.


Excelente (* * * * *)

8 comentários:

  1. De acordo com as suas palavras e imagens, o filme parece ser bastante interessante mesmo... Adoro filmes de animação, esse deve me entreter, segundo a sua historiaa...

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  2. è uma animação com uma outra visão, a de não ser destinada só a publico infantil, acho esse o grande diferencial das animações asiaticas das americanas, não desvalorizando uma ou outra, mas ambos os lados conseguem emocionar, e ambos nos conseguem fazer rir

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  3. Realmente Guilherme, mas não sei se é o estado de paixão que me faz olhar com mais gosto o cinema oriental, e tenho uma impressão de que eles dão uma aula de cinema ao ocidente, frente às recentes produções inspiradas que concorreram ao Oscar.

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  4. Eu só não acho melhor filme de guerra, porque ''vá e veja'' é destroçante, acaba com o ser humano, bem forte, talvez um retrato mais real que ja tive de uma guerra, não a perda material, e sim a emocional

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  5. Realmente é bem subjetiva essa escolha. Esse sempre mexe muito comigo...

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  6. queria saber escrever assim, conhecer as coisas tão bem como vc. que orgulho!!!

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